Alberto Cunha Melo





Alberto cunha melo, cujo nome completo era José Alberto Tavares da Cunha Melo (Jaboatão dos Guararapes, 1942 — Recife, 13 de outubro de 2007) foi um escritor, jornalista e sociólogo brasileiro.Neto e filho de poetas, estreou em livro em 1966, ano em que o historiador Tadeu Rocha batizou de Geração 65 o grupo de poetas surgidos nas páginas do Diário de Pernambuco naquela épocaComo sociólogo, trabalhou por onze anos na Fundação Joaquim Nabuco. Em sua atuação como jornalista, foi editor do Commercio Cultural, do Jornal do Commercio (Recife) de Pernambuco, e da Revista Pasárgada, além de colaborador da coluna Arte pela Arte, do Jornal da Tarde de São Paulo, e da coluna Marco Zero, da Revista Continente Multicultural.
Foi o maior incentivador do Movimento de Escritores Independentes de Pernambuco nos anos 1980Foi, também, Vice-Presidente da União Brasileira de Escritores – Secção Pernambuco – UBE-PE, entre 1983-1984, primeira gestão da entidade após a sua reorganização, com o início da abertura política no Brasil, e, por duas vezes, Diretor de Assuntos Culturais da Fundação do Patrimônio e Artístico de Pernambuco – FUNDARPE.Além das obras individuais, publicou poemas em antologias nacionais e estrangeiras. Em 2001, foi incluído na coletânea Os cem melhores poetas brasileiros do século XX, organizada por José Nêumanne Pinto (São Paulo: Geração Editorial).Ocupou a cadeira 60 da Academia de Letras e ArtesdoNordeste.Livros.Publicou:Círculo Cósmico. Recife: UFPE, separata da revista Estudos Universitários, 1966. Oração pelo Poema. Recife: UFPE, separata da revista Estudos Universitários, 1969. Publicação do Corpo. In: Quíntuplo. Recife: Aquário/UM, 1974. A Noite da Longa Aprendizagem. Notas a Margem do Trabalho Poético. Recife: 1978-2000. v. I, II, III, IV, V (inédito). Dez Poemas Políticos. Recife: Pirata, 1979. Dez Poemas Políticos. Recife: Pirata, 1979 (segundo clichê). 
Noticiário. Recife: Pirata, 1979. Poemas a Mão Livre. Recife: Pirata,1981. 
Soma dos Sumos. Rio de Janeiro: José Olympio, 1983. Poemas Anteriores. Recife: Bagaço, 1989. Clau. Recife: Imprensa Universitária da UFRPE, 1992. 
A Rural também Ensina a Semear a Poesia. Recife: Livro 7, 1992 (folheto de cordel – divulgação do lançamento do livro Clau). Carne de Terceira com Poemas à Mão Livre. Recife: Bagaço, 1996. Yacala. Recife: Gráfica Olinda, 1999. Yacala. Natal: EDUFRN, 2000 (edição fac-similar, prefácio de Alfredo Bosi). Meditação sob os Lajedos. Natal/Recife: EDUFRN, 2002. Dois caminhos e uma oração. São Paulo: A Girafa, 2003. O cão de olhos amarelos & Outros poemas inéditos. São Paulo: A Girafa,2006.

Fonte:Wikipédia



O homem de borracha
Alberto Cunha Melo


Eu batia na minha infância
doze portas atrás de mim,
e o homem de borracha passava
pela brecha da fechadura.
Por todo lado aparecia
o detetive sem chapéu,
e utilizava uma goteira
como a chuva, para alcançar-me.
Caso eu morresse e ele quisesse
um menino já sepultado,
chegaria ao pequeno corpo
por um buraco de formiga.
Ocultava-me e, no verão,
ressurgiam os companheiros
de farda azul, que me chamavam
o tempo inteiro do jardim.
Quando um dia fugi de casa,
como a esperança, ele esticou
o braço fino para mim
e segurou-me no horizonte. 



Relógio de ponto
Alberto Cunha Melo


Tudo que levamos a sério
torna-se amargo. Assim os jogos,
a poesia, todos os pássaros,
mais do que tudo: todo o amor.
De quando em quando faltaremos
a algum compromisso na Terra,
e atravessaremos os córregos
cheios de areia, após as chuvas.
Se alguma súbita alegria
retardar o nosso regresso,
um inesperado companheiro
marcará o nosso cartão.
Tudo que levamos a sério
torna-se amargo. Assim as faixas
da vitória, a própria vitória,
mais do que tudo: o próprio Céu.
De quando em quando faltaremos
a algum compromisso na Terra,
e lavaremos as pupilas
cegas com o verniz das estrelas.




Canto dos emigrantes
Alberto Cunha Melo


Com seus pássaros
ou a lembrança de seus pássaros,
com seus filhos
ou a lembrança de seus filhos,
com seu povo
ou a lembrança de seu povo,
todos emigram.
De uma quadra a outra
do tempo,
de uma praia a outra
do Atlântico,
de uma serra a outra
das cordilheiras,
todos emigram.
Para o corpo de Berenice
ou o coração de Wall Street,
para o último templo
ou a primeira dose de tóxico,
para dentro de si
ou para todos, para sempre
todos emigram.




Plataforma
Alberto Cunha Melo


Algum amigo, talvez o único,
aconselhará o combate:
mude de amigo se não pode
mais, nunca mais, mudar de vida.
Da amada nem se fala, tudo
que ela deseja é para si:
mude de amada se não pode
mais, nunca mais, mudar de vida.
A poesia não é mais feita
de água, de colírio indulgente:
mude de verso se não pode
mais, nunca mais, mudar de vida.
Diante do nascente alugam-se
espaços claros e andorinhas:
mude de casa se não pode
mais, nunca mais, mudar de vida.
Uma terça parte dos anjos
já veste túnicas vermelhas:
mude de roupa se não pode
mais, nunca mais, mudar de vida.



Temendo a manhã
Alberto Cunha Melo


Não corras da manhã:
enquanto vivas,
ela te alcança
com sua ameaça
ou sua promessa;
enquanto vivas,
a manhã te persegue
com dedos de luz
invadindo teu quarto
por baixo da porta,
feito carta acesa,
gritos de crianças
ou buzinas da pressa,
que já te acordaram
para sua ameaça
ou sua promessa.



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