Aline Andrade

                                          


Nasceu no Recife  em  11   de  dezembro   de  1980.
Escreve desde criança, embora só tenha começado a declamar aos 16 anos, nos balcões da poesia Franz Post, com a dupla "As Exóticas da Várzea", em 97. Em 98, participou da fundação da Sociedade Filhos da Pátria, de Bezerros. Dedicou-se a panfletar os poemas da Plebe Poética "anarco-marginal nunca mais"! Em 2002, publicou seu primeiro livro independente Oi Infinitamente Oi, de poesia e prosa. Atualmente prepara seu segundo livro de poesia A conspiração das              flores.

Fonte: Coletânea Poética Marginal Recife III



Sylvia Plath - primavera
Aline Andrade


Você me chama de puta. Eu componho.
Aterriso nas suas
composições - partitura. Seus fantasmas
me elogiam pelo olho.
Você se arrepia na fotografia. Eu
dorminhoca, ARIEL, grega,
SAFO. Faço na pétala cruel. Diante da
geladeira, procuro,
procuro e me horrorizo com as crianças
esquálidas da Nigéria.
Mamãe me ajuda. E dentro do cubo
piramos. Piramos
simplesmente. Batem 7 horas. Terrível -
precisava dizer uma
imagem vampirizante. Faço alquimia com
as datas. Corto-me e
fito o sangue correr. Eu intacta.
Condiciono-me a beber da lua,
sua cara de pus e riso. É assim que
funciono:
metal maciço aracnídeo.
Meu estado de putrefação me acorda -
nó de força. Do quarto
a alvura do lençol
canta. Eu amava.
Insuportavelmente amava.
Dependurada, chuto o banco.




Eu soul
Aline Andrade


Bebi do veneno dos teus seios serpente
Ouvindo teu canto marítimo
Li em tuas mãos a morte vespertina
Foste Rainha & putana
Te chamavas de gueixa na Índia
Na Espanha bailarina
Agora colhe meninas
Degustando castanholas
Atriz em fogo: heroína
Teu sangue encanta em raios
Parte a dança em atos
Dragando a lua com seu cajado santo





Ana Cristina César - outono
Aline Andrade


Queimação estomacal. Numa manhã as
folhas despencavam e do décimo
primeiro andar, um vento uivante tocava
o sino da varanda. O longínquo barulho
de buzinas, o lixo matinal na porta
da cozinha. Esquecera de fechar as
gavetas e recolher as flores murchas do
vaso. Era como se um bluesman
cantasse dentro dela, folheando vinte
vezes o livro dos dias.
Procura pastilhas de magnésia dentro de
uma cômoda e força o corpo para sentir
vontade de dar uma última volta nos
quarteirões do bairro. Down on me.
Querido, não posso continuar, a nova
sensação do vazio, o grito ensurdecedor
e azul de Janis Joplin All is loneless here
for me. Olhou-se no espelho pela última
vez. Foi a varanda espiou o tempo e a
queda nove segundos. Dor durante uma
pequena eternidade. You're innocent
when you dream".





Quatro cantos aos poetas suicidas
Numa sala branca
verão - Ian Curtis
Aline Andrade


Iam dar quatro horas. Tarde de verão.
Mês de março. Eles estavam em círculo.
Toque. Libertação do corpo. Imaturidade
& descoberta. O fogo se acendia entre
os lábios. Silêncio e angústia nos olhos.
O inimigo à espreita, uma canção
bêbada e ele galanteia novamente com
poesias. Poeta, o chamam. E a tarde
inteira cai lentamente. O rio, a floresta,
pensar as folhas, pensar o ar, as portas
entreabertas para quem quiser penetrar.
Seu amigo vai ao fundo, tem medo de
você. Se veste de hipócrita e se rende
mais uma vez.
Agora que você é rei da Prússia,
gargalha do semblante dos homens.
Numa casa escura ele detona o silêncio
com canções antigas tocadas no cravo e
baila com um sorriso pesado maldito.
Joga fora teu desejo pelo ralo, de estar
por um momento, enxergando tudo e
não estando em nada. Sobe a canção, o
volume do som preenche toda a casa, as
paredes brancas, os móveis
empoeirados, ele tortura-se e não
consegue chorar mais, porque todas as
coisas se fecharam em silêncio de morte.
O último odor. O imediatismo, o
sentimento de poder o domina,
fecham-se as janelas vizinhas. O tiro.
O primeiro vôo de um
pássaro. Mas agora ele fede para
a realidade. Pele toca no
rádio outra vez.





INVERNO - FLORBELA ESPANCA
Aline Andrade


Seus ácidos a levaram para a bolsa
d'água. De lá o ritmo
estrondante do inalcançável.
Retornar por mim, mas ele não - dentro
de mim, não posso me
conter:
Amo-te.
Essa é a terrível verdade das multidões
embriagadas. Poderiam
Ser todos mas:
Logo tu.
Prefiro o mar a não tragar de ti um único
suspiro tolamente
nua.
Noutro sistema você me penetrava
Nosso orgasmo transcendia a cruz de
sangue
congênita, nojenta.
Meus lábios esbranquiçados
desenharão para sempre: te esperando.
Sofro. Amor. Irmão.
Ah! Que existência tirana. Não suportar
sua música
(Nesse momento fecha as janelas, cria o
escuro e a
claustrofobia, liga o gás de cozinha e
acaba-se fatalmente e
sozinha)





PENSAMENTOS
Aline Andrade

                      I
(canto baixo e sombrio)
Raios floram idéias entre os espaços do vácuo
meu mundo é uma bolsa
guardo algumas palavras a cadeado
demência é pecado capital?
meu corpo remexe um sentimento convulsivo
deixe-me chorar
                       
                       II
(gritos de choro)
Os embriões trovejam nos ventres
excitação telepática, reumática, complexa de dal
ponham colírio nos ouvidos
eu faço chá com as folhas de jornal
pessoas abraçam a cruz de osso
sobre o formol

                        III
(canto eufórico)
Pinto sombras nos muros
enquanto os dentes perfuram-se na gula
os vermes degolam a morte
e meu pensamento evapora
bio vezes mil corridas
ah! não! terapia de choque social, não!

                          IV
(terapia de choque social, não!)
Vou gritar essa hipocrisia mesquinha
dessa estética moral, vou fazer ruínas
vou cuspir na ética
quero doar tudo antes da putrefação
não deixarei nada a mofo
nem a pá com sal
salvem-se do pensamento inercial




SYLVIA PLATH - PRIMAVERA
Aline Andrade


Você me chama de puta. Eu componho.
Aterriso nas suas
composições - partitura. Seus fantasmas
me elogiam pelo olho.
Você se arrepia na fotografia. Eu
dorminhoca, ARIEL, grega,
SAFO. Faço na pétala cruel. Diante da
geladeira, procuro,
procuro e me horrorizo com as crianças
esquálidas da Nigéria.
Mamãe me ajuda. E dentro do cubo
piramos. Piramos
simplesmente. Batem 7 horas. Terrível -
precisava dizer uma
imagem vampirizante. Faço alquimia com
as datas. Corto-me e
fito o sangue correr. Eu intacta.
Condiciono-me a beber da lua,
sua cara de pus e riso. É assim que
funciono:
metal maciço aracnídeo.
Meu estado de putrefação me acorda -
nó de força. Do quarto
a alvura do lençol
canta. Eu amava.
Insuportavelmente amava.
Dependurada, chuto o banco.










Nenhum comentário:

Postar um comentário