Jorge Lopes




Nasceu no Recife, em 1951. Poeta, artista plástico, compositor e produtor cultural. Tem vários livretos de poemas publicados, é editor do alternativo Balaio de Gato.Publicou:Poema em transe - Edição do autor, Recife, 1980;Balada para Lennon - Edição do autor, Recife, 1980;
Overdose - Edição do autor, Rio de Janeiro, 1985;
Desenhos e Poesias - Edição do autor, Recife, 1986;
Balada para Lennon (2ª edição) - Edição do autor, Recife, 1986;
Dez Poemas - Edição do autor, Recife, 1988;
Rotina das Máquinas - Edição do autor, Recife, 1988;
Balada para Lennon (3ª edição) - Edição do autor, Recife, 1988;
Poemas - Edição do autor, Recife, 1989;
Ciclo - Edição do autor, Recife, 1992.

Fonte:Coletânea Poética Marginal Recife I




Canção
Jorge Lopes


Me dispo de tuas vestes
sem qualquer fúria
e construo o meu canto
de silêncio, armadura
O teu sexo arde, baby
Sob um céu de fogo
o que não somos
é mais pobre
nas palavras do jogo
Não basta a mágica
dos teus olhos molhados
nem meus dentes mordendo
um velho blues de Atlanta;
não basta a lógica
porque tudo muda
a todo instante
e o amor é uma coisa comum.





Conto de foda
Jorge Lopes


De madrugada
Quando as crianças estão dormindo
O soldadinho de chumbo
                   abandona o seu posto
E vai trepar com a bailarina
    da caixinha de música




Poema nacional
Jorge Lopes


Poderia dizer
que o poema tem pressa
e acalenta em mim
essa inquietude,
fervendo minhas tripas.
Poderia dizer
que o poema tem fome,
espetada nos olhos da balconista.
Mas o poema é pouco,
para alcançar os homens
adormecidos em seus sonhos de medo;
o poema é pouco,
contra os militares e suas armas mortais,
contra a igreja e seu deus profano,
contra os sórdidos capitalistas
e latifundiários desse meu país.
O poema é muito pouco,
mastigando essa esperança brasileira.





Duas canções suburbanas
Jorge Lopes


1.
Dona Rosa
Era uma velhinha caridosa
Era a própria rosa
Não tinha espinhos
Foi formosa
Quando jovem rosa
Moça muita prosa
Dizem os vizinhos
E naquela sexta-feira ensolarada
Quando voltava do supermercado
Foi morta na rua ao lado
Estupidamente atropelada
2.
O cachorro vasculha o lixo
E
Há uma nuvem no céu




Pai
Jorge Lopes


Tudo que sei
É a certeza dessas paredes solitárias
que guardam histórias distantes de mim.
Tudo que sei
é o gosto amargo da ausência
no fundo da noite.
Eu sei.
Nunca soube do teu sorriso
nem dos teus braços queimados de sol.
Nunca soube dos campos verdes
nem das canções do vento e dos pássaros
dos teus sonhos.
Eu posso apenas olhar as velhas paredes.
Mortas.



Complexo de Édipo
Jorge Lopes


De madrugada
Ela fica rodopiando
Pelos cômodos da casa
Com os cabelos em desalinho
E os olhos sonolentos
Ela canta uma canção de ninar
E sua voz de passarinho
Atravessa os meus ouvidos
Feito uma bala sibilante
Depois
Ela me dá um beijo e vai dormir
E eu fico pensando
Em mandar todo o quarteirão
                        pelos ares






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