Juarez Correya





Juareiz Correya, nasceu em Palmares região Mata Sul de Pernambuco no dia 19 de setembro de 1951. É diretor editorial da Panamerica Nordestal Editora, do Recife-PE. Publicou o livreto Americanto Amar América & Outros Poemas Recife, 1975,o livro Americanto Amar América Recife, 1982,e o álbum, com quadrinhos desenhados por Roberto Portella, Americanto Amar América Recife, 1993. Publicou ainda estes livros de poesia – O amor é uma canção proibida Recife, 1979, Coração Portátil Recife, 1984/1999 e, em parceria com José Terra, Poesia do mesmo sangue Recife, 2007. Organizou e publicou as antologias Poetas dos Palmares Palmares, 1973/1987/2002, Poesia Viva do Recife Recife, 1996, Arraes na boca do povo – cordéis e repentes Brasília, 2007. 

Fonte:Poetas del Mundo




Arte do poder
Juareiz Correya


Os romanos inventaram
com leões e cristãos
o circo com pão.
Os brasileiros bolaram
com samba e com sol
o circo sem pão
do futebol.
Hoje o Brasil
descoberto de novo,
inventado de novo,
decretou o Estado de Circo
- sem picadeiro, sem palco
e sem pão,
com panos coloridos tapando o céu
um mágico desgovernado no planalto
e uma platéia de 140 milhões
de bestas e de palhaço.




Identificado Recife
Juareiz Correya


hoje amanheci domingo
estou cedo pelo Recife deserto
as possibilidades são raras
nesta cidade que eu sou :
o sol do atlântico pode me devorar
ou a chuva do capibaribe me apodrecer.
ninguém transita ou veicula sorrisos
não chega ou se despede ninguém cotidiano
tudo sou eu que parei e descanso mortomente.
a cidade que eu sou entardecerá cinemas
crepusculabrirá bares
travestidas boates sexuais passeios
passagens noite a dentro.
amanhãserei primeiro
segunda feira
dia que te uso e mascateias 





A criação dos homens
Juareiz Correya



O poeta toca as palavras,
magia que toca as pessoas.
Há uma multidão em sua fala.
As palavras germinam,
crescem, andam, ardem, crepitam
e fenecem. E todos os dias ressuscitam.
Como ressuscitamos.
Com um sopro e um sol pronunciado.
As palavras animam-se completamente
e nuas ou bem ou mal vestidas
vivem e fazem parte
do universo das horas.
Vão para além, numa viagem
cedo ou nunca interrompida.
As palavras são pétalas,
carne, espírito e luz.
O cheiro próprio, a sonoridade única,
o modo inconfundível, o gesto inteiro,
o gosto pleno, o corpo aberto,
a presença exata,
a palavra não foi, nem poderia ser, nem será,
a palavra é apenas o que é.
E a sua residência não é a terra,
nem a infinita cidade das galáxias,
ou os tratados, as gramáticas
e os tumulares dicionários :
é o interior do coração.   





Palmares
 Juareiz Correya                              
                                À vida de Givanilton Mendes


A cidade tem uma vontade asfixiante
que assoma inteira e exerce o seu domínio
sobre todos, vítimas vencidas.
É negra e rija, de músculos tentaculares
e uma história de desprezo sobre os homens
arrotada por mil cantos.
Corre sangue sempre verde em seus lugares
- um rio que não aplaca a sede,
não alimenta e nem apodrece.
Um rio desgovernado, de rumos sabidos,
sempre voragem, vertiginosa viagem.
Águas mortas sem margem
de negruras profundas que vêm de longe
fecundam registros e lendas
fantasiando trombetas pauis pirangis abreus...
Há muitos ébrios perdidos
pelas ruas silenciosas e tristes
invertidos com a bebedeira de tardes noites.
Rebeliões sufocadas, revelações
castradas e reencarnações multiplicadas
na indigência e em cada dor.
Deuses malditos perambulam, ambulantes,
em seu mercado público de sortes e desgraças. 

E todos os dias são sempre indiferentes :
tanto faz a vida, tanto faz a morte. 





Paternidade
Juareiz Correya   
                           Para José Terra, João Guarani e Mariama


nada sou, nem tenho, nem serei jamais.
e vocês herdarão de mim apenas o que escrevo.
é muito pouco.
toda uma vida por isso vale a pena?
espero que as suas almas não sejam pequenas.
o que fiz a mais foi chamá-los para este mundo,
ao lado da companheira e mãe que em mim acreditou
e que revelou comigo os seus nomes.
o que escrevo é o que vivo.
estou nas palavras e nos livros,
nas ruas dos meus passos,
nos ventos dos meus caminhos,
nas terras das minhas fantasias
e nos céus eternos das cidades.
gosto de mim, me amo inteiramente,
e tenho, por vocês, pela mulher
que é minha verdadeira companheira,
pela minha pequeníssima vida,
um imenso orgulho de mim.
é só o que posso lhes dizer ? sim.
- amem, amem-se, amem para sempre o amor. 









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